quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Medicamentos e crianças: o dilema dos "órfãos terapêuticos"

       Em decorrência de implicações éticas e muitas vezes pela falta de interesse financeiro das grandes empresas farmacêuticas, ainda persiste o quadro de um dos maiores problemas de saúde pública do mundo: o baixo número de alternativas terapêuticas com evidência comprovada para o tratamento de enfermidades em crianças.
      Já existem na literatura diversas publicações que relatam as altas prevalências na utilização de medicamentos não aprovados ou não padronizados para crianças, tanto em consultórios pediátricos quanto em unidades de internação e de tratamento intensivo pediátricas, de modo não justificado, ou mesmo por desconhecimento dos prescritores em relação a essas peculiaridades.
        Com muita freqüência, a prescrição e o uso desses medicamentos, nas faixas pediátricas, são baseados em extrapolações de doses e/ou modificações de formulações para adultos, ignorando-se completamente as diferenças entre crianças e adultos e submetendo aquelas aos riscos de eficácia não comprovada e de paraefeitos não avaliados.
          Há mais de 30 anos, Shirkey já reconhecia a existência do sério dilema da padronização de medicamentos pediátricos, chamando-os de "órfãos terapêuticos". Apesar de diversas iniciativas das agências reguladoras e de instituições como a Organização Mundial da Saúde - OMS e o Medico Sem Frontenteiras - MSF, ainda em geral, tratamentos, vacinas e diagnósticos pediátricos são drasticamente pouco pesquisados.
          A lacuna existente entre as necessidades e os medicamentos disponíveis é fortemente evidente no tratamento de HIV/AIDS: como poucas crianças são infectadas pelo HIV nos países ricos (quase 100 crianças são infectadas na Europa ou América do Norte a cada ano, comparando com as 560.000 infectadas na África), as empresas farmacêuticas não têm um incentivo econômico para desenvolver medicamentos ou testes que funcionem para crianças. Como resultado, muitos antirretrovirais nunca foram testados em crianças. Testes de diagnóstico também são, infelizmente, inadequados para elas.
        Como iniciativa para minimizar a falta de acesso a informações sobre o uso de medicamentos em rrianças publicou neste ano a terceira edição de uma lista de referência para uso de medicamentos em crianças (Model List of Essential Medicines for Children).
          Outra publicação também muito util é o formulário terapêutico (Model Formulary for Children) com informações sobre 240 medicamentos essenciais para crianças com menos de 13 anos. Este guia traz dados sobre uso, dosagem e efeitos colaterais dos medicamentos e também alertas sobre quais crianças não devem tomá-los. O documento com 528 páginas tem ainda um roteiro de interações medicamentosas mais comuns."Sem um guia global, muitos profissionais da saúde tinham que receitar remédios com base em evidências muito limitadas", disse o médico Hans Hogerzeil, da OMS.

          
        Cerca de 8,8 milhões de crianças com menos de 5 anos morrem todos os anos, muitas de doenças como diarréia e pneumonia, que poderiam ser evitadas com o uso correto dos remédios, segundo a OMS. 




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