domingo, 18 de setembro de 2011

Propaganda de Medicamentos: Há limites para a Indústria Farmacêutica?

         Sempre ficamos perplexos com a influência da Indústria Farmacêutica nos sistemas de saúde, nos órgãos de regulação, nas altas instâncias de governo. Porém, um fato ocorrido nos últimos dias supera qualquer expectativa anterior. Agora vemos escancarar a influência da indústria de fármacos na grande mídia. 
        Com capa intitulada de "Parece Milagre" a conceituada revista Veja ilustra a "mágica" do emagrecimento rápido e fácil por meio de um novo medicamento que promete reduzir até 12 quilos em 5 meses, sem efeitos colaterais!
      Por traz desse suposto furo de reportagem está uma inconseqüente propaganda do medicamento Victoza® da Novo Nordisk que tem a Liraglutida como princípio ativo e está aprovada no Brasil, para o tratamento da Diabetes Mellitus tipo 2. Trata-se de um análogo do hormônio GLP-1 (peptídeo análogo ao glucagon 1), denominado incretina, que é liberado pelo trato gastrintestinal com o objetivo de aumentar a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas. O GLP-1 aumenta significantemente a secreção de insulina dependente de glicose, diminui secreção de glucagon, retarda o esvaziamento gástrico e diminui apetite.
       Apesar de um dos efeitos colaterais previstos ser a redução do apetite, não há evidências de segurança e eficácia suficientes para a utilização deste produto no tratamento de redução de peso. Na realidade, este medicamento não faz parte das linhas iniciais de tratamento do Diabetes tipo 2, sendo utilizado caso não tenham obtido adequado controle glicêmico com metformina, uma sulfoniluréia, ou com terapia dupla de metformina + sulfoniluréia ou metformina + tiazolidinediona.
         Pior do que estampar na capa a ação de um medicamento não aprovada pela agência regulatória do pais é ainda dar a falsa impressão de que não há perigos na utilização, o que também está errado! Os efeitos adversos mais freqüentes da liraglutida incluem: náusea, diarréia, vômito, cefaléia e claro: hipoglicemia. Náusea levou a um índice de cerca de 4% de abandono dos pacientes em diversos estudos clínicos! (com pacientes em condições controladas).
         A ANVISA rapidamente emitiu Nota de Esclarecimento informando que "Não foram apresentados estudos que comprovem qualquer grau de eficácia ou segurança do uso do produto Victoza para redução de peso e tratamento da obesidade".
        Apesar da grande repercussão desta reportagem e do impacto que teve inclusive com vários relatos de aumentos surpreendentes de vendas e fim dos estoques em varias farmácias, sabemos que na verdade a utilização da mídia e propagandas em geral é uma das formas mais consolidadas de influência dos produtores de medicamentos. 
      Estima-se que nesse ramo invista-se duas vezes mais em propaganda do que em pesquisa e desenvolvimento! Podemos verificar um interessante histórico das propagandas de medicamento no livro: "Vendendo Saúde" de Eduardo Prado, publicado em 2008 pela Anvisa, disponível na nossa página de arquivos.

        
          Persistem as seguintes questões: Até quando vamos ser vulneráveis a manipulação descontrolada das grandes indústrias farmacêuticas? Qual o real impacto dessa poderosa influência na saúde coletiva e nos sistemas de saúde? Provavelmente "assistiremos" passivamente essa realidade até o próximo comercial.