domingo, 23 de janeiro de 2011

Os 10 medicamentos que revolucionaram os cuidados em saúde


1. PENICILINA: Por incrível que pareça o marco inicial da era dos antibióticos surgiu de um acidente. Em 1928 quando Alexander Fleming saiu de férias e esqueceu algumas placas com culturas de microrganismos em seu laboratório no Hospital St. Mary em Londres. Quando voltou, reparou que uma das suas culturas de Staphylococcus tinha sido contaminada por um bolor, e em volta das colônias deste não havia mais bactérias. Então Fleming e seu colega, Dr. Pryce, descobriram um fungo do gênero Penicillium, e demonstraram que o fungo produzia uma substância responsável pelo efeito bactericida: a penicilina. Esta foi obtida em forma purificada por Howard Florey e Ernst Chain da Universidade de Oxford, muitos anos depois, em 1940. Em 1941, os seus efeitos foram demonstrados em humanos. O primeiro homem a ser tratado com penicilina foi um agente da polícia que sofria de septicemia com abcessos disseminados, uma condição geralmente fatal na época. Em 1945, Fleming, Florey e Chain receberam o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina por este trabalho. A penicilina salvou milhares de vidas de soldados dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Durante muito tempo, o capítulo que a penicilina abriu na história da Medicina parecia prometer o fim das doenças infecciosas de origem bacteriana como causa de mortalidade humana.
2. PÍLULA ANTICONCEPCIONAL: Vendida com o nome de Enovid®, era composta por 150 mg de estrogênio sintético e 9,85 mg de derivado de progesterona – com dose de hormônios muito superior que as pílulas atuais. "A invenção da pílula revolucionou a sexualidade feminina e abriu caminho para o movimento de libertação da mulher. Permitiu que as mulheres pudessem planejar o número de filhos e o momento apropriado para tê-los", afirma Ângela Maggio da Fonseca, professora de ginecologia da USP e uma das autoras de "História da Anticoncepção" (ed. Casa Leitura Médica). A pílula anticoncepcional, cujo aniversário de 50 anos foi celebrado em 2010, é sem duvida um dos avanços científicos mais importantes do século 20. Muita coisa foi escrita sobre como a pílula revolucionou as relações sexuais e sociais, permitindo que mulheres adiassem a gravidez, entrassem no mercado de trabalho e fizessem escolhas de vida que suas mães não puderam fazer. A pílula ainda é um método líder de contracepção, usado por mais de 100 milhões de mulheres ao redor do mundo.
3. INSULINA: Em 1869, Paul Langerhans, um estudante de medicina em Berlin, estudava a estrutura do pâncreas através de um microscópio quando sugeriu que tais células poderiam produzir algum tipo de secreção que participasse no processo de digestão. Em 1889, o médico teuto-polonês Oscar Minkowski em colaboração com Joseph von Mehring removeu o pâncreas de um cão saudável para demonstrar o papel do órgão na digestão de alimentos. Vários dias após a remoção do pâncreas, o guarda do cão reparou que existiam muitas moscas a alimentarem-se da urina do animal. Verificou-se com o teste da urina do cão que havia açúcar nesta, o que demonstrou pela primeira vez a relação entre o pâncreas e a diabetes. Durante as duas décadas seguintes foram feitas várias tentativas de isolamento da secreção das ilhotas como um tratamento potencial de diabetes. Em 11 de janeiro de 1922, Leonard Thompson, um diabético de quatorze anos, recebeu a primeira injeção de insulina. Infelizmente, o extrato estava tão impuro que ele acabou sofrendo uma reação alérgica severa, e injeções adicionais foram canceladas. Após algumas melhoras nas técnicas de preparo os pesquisadores receberam uma oferta de ajuda de Eli Lilly que conseguiu a façanha de produzir grandes quantidades de insulina bastante pura. Depois disso, a insulina foi lançada no mercado. Contrariando as tendências mercadologicas e demonstrando a importância da descoberta para os tratamentos no mundo os pesquisadores responsáveis pela obtenção da insulina decidiram vender a patente da mesma para a Universidade de Toronto por 1 dollar.
4. ASPIRINA: Aspirina, em alguns países, é ainda nome comercial registrado, propriedade dos laboratórios farmacêuticos da Bayer para o composto ácido acetilsalicílico. No entanto, é igualmente reconhecido como nome genérico do princípio activo, e é por esse nome que é habitualmente referida na literatura farmacológica e médica. É um fármaco do grupo dos anti-inflamatórios não-esteroides (AINE), utilizado como anti-inflamatório, antipirético, analgésico e também como antiplaquetário. É o medicamento mais conhecido e um dos mais consumidos em todo o mundo. Em 1999 a Aspirina completou 100 anos. Porém já no século V a.C., Hipócrates, médico grego e pai da medicina científica, já havia descrito que o pó ácido da casca do salgueiro ou chorão (que contém salicilatos mas é potencialmente tóxico) aliviava dores e diminuía a febre. Esse remédio também é mencionado em textos das civilizações antigas do Médio Oriente, Suméria, Egito e Assíria. Os nativos americanos usavam-no também para dores de cabeça, febre, reumatismo e tremores. Em 1897, o laboratório farmacêutico alemão Bayer, conjugou quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando o ácido acetilsalicílico (Aspirina), que descobriram ser menos tóxico. O ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica. Foi também o primeiro fármaco vendido em tabletes.
5. VACINA CONTRA VARIOLA: O criador da primeira vacina, contra a varíola, foi Edward Jenner. Em 1796 Jenner observou que as vacas tinham nas tetas feridas iguais às provocadas pela varíola no corpo de humanos. Os animais tinham uma versão mais leve da doença, a varíola bovina, ou bexiga vacum. Ao observar que as moças responsáveis pela ordenha, que comumente acabavam infectadas pela doença bovina tinham uma versão mais suave da doença, ficando imunizadas ao vírus humano, ele recolheu o líquido que saía destas feridas e o passou em cima de arranhões que ele provocou no braço de um garoto, seu filho. O menino teve um pouco de febre e algumas lesões leves, tendo uma recuperação rápida. A partir daí, o cientista pegou o líquido da ferida de outro paciente com varíola e novamente expôs o garoto ao material. Semanas depois, ao entrar em contato com o vírus da varíola, o pequeno passou incólume à doença. Estava descoberta assim a propriedade de imunização (o termo vacina seria, portanto, derivado de vacca, no latim). A varíola matou quase 500 milhões de pessoas só no século XX. O último caso registado de varíola ocorreu na Somália em 1977 e o vírus hoje é guardado em dois centros governamentais bem vigiados, o Laboratório de Controle de Doenças (CDC) de Atlanta, EUA e pelo Instituto Vector em Novosibirsk, na Rússia. A OMS pede que as amostras sejam destruídas, mas há resistência de alguns cientistas contra esta decisão.
6. SILDENAFILA: O sildenafila foi sintetizado por um grupo de farmacêuticos que trabalhavam nas pesquisas do grupo Pfizer, nos Estados Unidos. Primeiramente foi estudada para o uso em hipertensão (alta pressão sanguínea) e angina (uma forma de doença cardiovascular isquêmica). As primeiras impressões sugeriram que a droga tinha um pequeno efeito sobre a angina, mas que podia induzir fortemente ereções penianas. A Pfizer conseqüentemente decidiu comercializá-la como tratamento para a disfunção erétil, ao invés de tratamento para a angina. A droga foi patenteada em 1996, e aprovada para uso na disfunção erétil pela Food and Drug Administration (FDA) em 27 de Março de 1998, tornando-se a primeira pílula a ser aprovada nos Estados Unidos para o tratamento das disfunções eréteis, sendo oferecida para venda um ano depois. Rapidamente ela se tornou um grande sucesso: as vendas anuais de Viagra® no período de 1999–2001 excederam 1 bilhão de dólares. Embora o sildenafila seja disponível somente através de prescrição médica, ela foi anunciada diretamente aos consumidores em comerciais de TV no mundo todo. Assim como a pílula anticoncepcional revolucionou o mundo feminino a “pilula azul” modificou as relações de sexualidade de milhares de homens que sodriam com os estigmas da impotência sexual.
7. FLUOXETINA: Fluoxetina é um medicamento antidepressivo da classe dos inibidores selectivos da recaptação da serotonina. Suas principais indicações são para uso em depressão moderada a grave, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e bulimia nervosa. É utilizado na forma de cloridrato de fluoxetina, como cápsulas ou em solução oral. Foi sintetizada e comercializada inicialmente pela companhia farmacêutica Eli Lilly com o nome Prozac®. Chamada de a “pilula da felicidade” o Prosac® tem sua importância graças a grande popularização dos tratamentos psiquiatricos pela aproximação da ciência de Freud com a biologia. Apesar da existência anterior de outros antidepressivos com relativa eficácia, a fluoxetina avança pela diminuição dos efeitos secundários indesejáveis. Além disso a possibilidade de resolução de transtornos mentais com tratamentos distantes da agressividade e sofrimento das casas repouso e centros manicomiais. A popularização dos antidepressivos ficou evidente o filme “Geração Prosac” que discute sobre depressão, tratamento e dependência dos polémicos tratamentos psicofarmacológicos.
8. MOSTARDA NITROGENADA: A primeira droga usada para a quimioterapia do câncer, entretanto, data por volta do século XX, através de uma substância que não foi primeiramente usada com este propósito. O gás mostarda foi usado na guerra química durante a Primeira Guerra Mundial e foi estudada posteriormente durante a Segunda Guerra Mundial. Durante uma operação militar na Segunda Guerra Mundial, um grupo de pessoas foram expostas acidentalmente ao gás mostarda e posteriormente descobriu-se que ela tiveram uma diminuição na contagem de leucócitos do sangue. Foi então deduzido que um agente que danificava rapidamente o crescimento de leucócitos deveria ter um efeito similar no câncer. Depois disto, na década de 1940, muitos pacientes com linfoma avançado receberam a droga por via intravenosa, ao invés de inalar o gás. O Nitrogênio mostarda (mecloretamina) se torna o primeiro agente químico aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de câncer. Nitrogen mustard belongs to a class of drugs called alkylating agents, which kill cancer cells by chemically modifying their DNA. A mostarda nitrogenada pertence a uma classe de medicamentos chamados agentes alquilantes, que matam as células cancerosas através da modificação química de seu DNA. A melhora destes pacientes, embora temporária, foi notável. Esta experiência levou a pesquisas com outras substâncias que tinham efeito similar contra o câncer. Como resultado, muitas outras drogas foram sendo desenvolvidas no tratamento contra o câncer.
9. ZIDOVUDINA (AZT): A zidovudina foi à primeira droga aprovada para o tratamento da infecção do VIH/SIDA. Jerome Horwitz do Barbara Ann Karmanos Cancer Institute e Wayne State University School of Medicine sintetizou o AZT em 1964. O AZT foi originalmente pensado como uma droga anti-cancro, mas foi arquivada quando se conclui que não era suficientemente efectiva contra tumores em ratos. O tempo entre a primeira demonstração que o AZT era activo contra o VIH no laboratório e a sua aprovação foi de apenas 25 meses, que é um dos mais curtos períodos de desenvolvimento de uma droga na história recente. O AZT foi subsequentemente aprovado como tratamento preventivo em 1990. Foi inicialmente administrado em doses muito maiores que as actuais, tipicamente 400 mg a cada quatro horas (mesmo durante a noite). No entanto, a falta de alternativas na altura para tratar a SIDA/AIDS afectou o rácio risco/benefício, com a garantida toxicidade da infecção VIH ultrapassando o risco de toxicidade da droga. Um dos efeitos secundários do AZT é anemia, uma queixa frequente nos ensaios clínicos. Os regimes de tratamento actuais envolvem doses menores (e.g., 300 mg) de AZT tomados duas vezes ao dia, e quase sempre como parte da highly active antiretroviral therapy (HAART). O AZT é combinado com outras drogras para evitar a mutação do VIH em formas resistentes a este medicamento.
10. TALIDOMIDA: A talidomida chegou ao mercado pela primeira vez na Alemanha em 1º de outubro de 1957. Foi comercializada como um sedativo e hipnótico com poucos efeitos colaterais. A indústria farmacêutica que a desenvolveu acreditou que o medicamento era tão seguro que era propício para prescrever a mulheres grávidas, para combater enjôos matinais. Foi rapidamente prescrita a milhares de mulheres e espalhada para todas as partes do mundo (46 países), sem circular no mercado norte-americano. Os procedimentos de testes de drogas naquela época eram muito menos rígidos e, por isso, os testes feitos na talidomida não revelaram seus efeitos teratogénicos. Os testes em roedores, que metabolizavam a droga de forma diferente de humanos, não acusaram problemas. Mais tarde, foram feitos os mesmos testes em coelhos e primatas, que produziram os mesmos efeitos horríveis que a droga causa em fetos humanos. No final dos anos 1950, foram descritos na Alemanha, Reino Unido e Austrália os primeiros casos de malformações congênitas onde crianças passaram a nascer com focomielia, mas não foi imediatamente óbvio o motivo para tal doença. Os bebês nascidos desta tragédia são chamados de "bebês da talidomida", ou "geração talidomida". Em 1962, quando já havia mais de 10.000 casos de defeitos congênitos a ela associados em todo o mundo, a Talidomida foi removida da lista de remédios indicados.  A grande revolução provocada pela Talidomida não está na plerpecidade dos seus danos causados, mas nas mudança de paradigma no controle regulatório dos medicamentos. Com esse lamentável evento o mundo inteiro começou a investir na prevenção de danos e nas estratégias de promoção da segurança do uso de medicamentos, não poderíamos pensar em bases tão solidas de farmacovigilância sem o grande alerta da talidomida.

2 comentários: