sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dica de Livro - O acesso aos medicamentos de alto custo nas Américas: contexto, desafios e perspectivas.




Este documento é uma publicação do Projeto de Medicamentos Essenciais e Produtos Biológicos (THR/EM), Área de Tecnologia, Atendimento à Saúde e Pesquisa (THR), da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).

O documento foi preparado a partir das conclusões do Primeiro Encontro Internacional sobre Acesso a Medicamentos de Alto Custo e Fontes Limitadas, realizado em novembro de 2008 e promovido pela OPAS/OMS no Brasil e pelos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores do Brasil, do qual participaram delegações da Argentina, Barbados, Brasil,Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Jamaica, México, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname e Uruguai.

Você pode ter acesso a este e outros documentos relacionados na nossa sessão de "Programação e Aquisição" do Blog

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Dica de Artigo - Gestão de Compras em Farmácia Hospitalar

Nesta semana, vamos dar destaque ao texto elaborado pela equipe de farmacêuticos do Hospital das Clinicas da FMUSP e emitido em encarte especial da revista Pharmacia Brasileira do CFF. 



No ciclo da assistência farmacêutica, a aquisição de medicamentos é uma das principais atividades, visto que o mesmo é um insumo fundamental de suporte às ações de saúde. Uma boa aquisição de medicamentos deve considerar primeiro o que comprar (seleção); quando e quanto comprar (programação); e como comprar. O monitoramento e a avaliação dos processos são fundamentais para aprimorar a gestão e intervir nos problemas.

O texto aborda questões relacionadas a especificação de medicamentos, codificação, gestão da demanda, classificação ABC e XYZ, licitações, avaliação de fornecedores, entre outros. Este e outros arquivos relacionados estão na nossa biblioteca virtual na sessão: "Programação e Aquisição".

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dica de Livro - Assistência Farmacêutica para Gerentes Municipais


Iniciando mais uma sessão do nosso Blog a "Dicas de Livros" estreia com a publicação que talvez seja a referência básica para inicio e consolidação da Assistência Farmacêutica Brasileira, o livro:

Assistência Farmacêutica para Gerentes Municipais


Publicado originalmente em 2003 pela Organização Pan-americana de Saúde - OPAS com a participação de vários profissionais com experiência reconhecida na área de Assistência Farmacêutica e com objetivo de subsidiar primordialmente a formação e a educação permanente dos gerentes de Assistência Farmacêutica dos municípios brasileiros e tornar disponível, a um número cada vez maior de gerentes e farmacêuticos, os conhecimentos sobre a Assistência Farmacêutica levando-os a refletir sobre seu papel no Sistema Único de Saúde.

O Livro possui capítulos introdutórios sobre o Sistema Único de Saúde, Epidemiologia e Gerenciamento  aplicados a Assistência Farmacêutica, além de capítulos sobre as etapas do ciclo da Assistência Farmacêutica: Seleção, Programação, Armazenamento, Dispensação, Atenção Farmacêutica e promoção do Uso Racional de Medicamentos.

A publicação teve uma tiragem inicial de 5mil exemplares e disponibilização gratuita no site da OPAS. Porém este clássico está em processo de revisão e dará base a uma outra publicação que está sendo produzida pela Fiocruz. 

A nova publicação possui previsão de lançamento para este ano pela Editora Fiocruz, e a intenção é que seja uma ferramenta legítima da expertise nacional em relação à assistência farmacêutica. Claudia Osório que participou do 1º livro conta que os capítulos de agora serão mais aprofundados e, apesar de ser voltado para gestores, poderá trazer outras abordagens, além de resgatar experiências exitosas na área de assistência farmacêutica no país. A mestranda Letícia Freitas será a organizadora administrativa do livro.


Na nossa biblioteca virtual você pode ter acesso a obra na pagina + AF

terça-feira, 24 de julho de 2012

Truvada, AIDS e como a Industria Farmacêutica nos enrola mais uma vez

O FDA, órgão do governo americano que controla drogas e alimentos, anunciou nesta segunda-feira a aprovação do Truvada, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences, como primeira pílula para ajudar a prevenir a contração do HIV em grupos de alto risco. E é claro, mesmo antes de qualquer discussão sobre a aprovação na Europa ou em países em desenvolvimento, a noticia já correu o mundo  convenientemente alardeada como uma grande contribuição da Industria Farmacêutica para o combate a epidemia de AIDS. Será?


O Truvada, comercializado desde 2004, é a combinação de outras duas drogas, mais antigas, usadas no combate ao HIV: emtricitabina  e  tenofovir. O medicamento faz parte de alguns coqueteis que dificulta a proliferação do vírus, reduzindo as chances de a Aids se desenvolver. Porém, apesar de toda a marketing internacional para o uso deste medicamento na prevenção da AIDS os dados de eficácia ainda são questionáveis.



Um dos estudos avaliou o desempenho do medicamento entre 2.499 homens que fazem sexo com homens, distribuídos em seis países. Nesse trabalho, ficou demonstrado que o nível de proteção oferecido pela droga variou de 43% a 73%. Outros dois estudos mostraram níveis de proteção similares. Um quarto, realizado com mulheres no continente africano, foi interrompido por causa dos resultados ruins e da baixíssima adesão ao tratamento. 

Obviamente pela inferioridade da proteção do medicamento em relação a camisinha, o mesmo não substituirá o uso do preservativo, melhor método de prevenção de contagio até o momento, com taxas de efetividade superiores a 99%. Porém o próprio fabricante indica o seu uso (associado a camisinha) para grupos vulneráveis como prostitutas ou pessoas não infectadas que possuem parceiros soropositivos. Porém o maior questionamento é em relação ao aspecto de custo efetividade do uso deste medicamento. O uso combinado da camisinha + medicamento traz ganho real em relação ao uso isolado do preservativo?


Como todo medicamento, é necessário observar o grau de adesão dos pacientes ao seu uso, problema relatado no estudo feito na África (onde o flagelo da doença se mostra mais evidente com estimativa de mais de 60%, da população AIDS-infectada). A Adesão pode ser prejudicada pelos efeitos colaterais característicos dos Antiretrovirais. O Truvada costuma provocar, como efeito colateral, vômitos, diarreia, náuseas e tontura.  Há casos também de intoxicação do fígado, perda óssea e alteração da função renal.

E quanto isso tudo pode custar?
Segundo a reportagem da Isto É, nos casos em que a seguradora de saúde não assumir o pagamento do remédio nos EUA, o interessado em tomá-lo precisará desembolsar cerca de US$ 12 mil por ano.

O Brasil que possui um dos melhores programas de tratamento da AIDS do mundo, essa expectativa em relação ao uso do medicamento parece não ser vista com bons olhos, dado a falta de dados mais efetivos e ao alto valor do medicamento. Mesmo já registrado no Brasil, o Truvada não foi adicionado ao coquetel de tratamento da AIDS.

Precisamos cada vez mais reforçar os mecanismos de Avaliação de Tecnologias em Saúde no serviço publico para evitar que os mecanismos de marketing farmacêutico, agora cada vez mais disfarçados como reportagens jornalísticas pressionem a incorporação de medicamentos com menor grau de evidencia e maior grau de oneração dos recursos da saúde.

Quer saber mais sobre esse assunto? Veja outros posts do Blog:






sábado, 21 de julho de 2012

Dica de Artigo - Saúde Publica Brasileira precisa de mais recursos [por Gilson Carvalho]



Abrindo uma nova sessão do Blog com o Artigo dessa semana, inicio com a opinião do conterrâneo Gilson Carvalho sobre o financiamento do SUS.   Definido por profissionais e gestores da saúde como "entusiasta defensor do SUS". Nascido em Aracaju, em 1946, especialista em Pediatria, Saúde Pública e Administração Hospitalar, Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP (sua tese tratou do financiamento federal da saúde), ele já foi secretário de saúde de São José dos Campos (São Paulo) e secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde.

Como Gilson carvalho é segundo ele proprio adepto do "copyleft" (prática semelhante à do software livre), onde afirma que seus textos podem ser copiados e divulgados, independente de sua autorização e desde que sem fins comerciais. Anexamos na própria pagina do Blog a opinião do sanitarista sobre a real necessidade de recursos para o SUS e por meio de evidencias demonstra que apesar das necessidades de reorganização do sistema, o financiamiento do SUS está muito aquém da necessidade:





A SAÚDE PÚBLICA BRASILEIRA PRECISA DE MAIS RECURSOS DO GOVERNO FEDERAL [Gilson Carvalho]



1. INTRODUÇÃO
As duas posições extremadas continuam sendo assumidas no Brasil. Uns dizendo que falta dinheiro e outros, radicalizando no extremo oposto, falando, alto e bom som, que o problema único ou maior, é a falta de gestão (entenda-se incompetência gerencial das pessoas e processos públicos de trabalho obsoletos). Neste texto quero apenas demonstrar a falta de recursos, mas reafirmando que existe realmente má gestão que deve ser corrigida concomitantemente. Sou adepto e defendo a multicausalidade: falta de dinheiro, falta de condições de vida do brasileiro, falta do novo modelo SUS, falta de gestão, falta de honestidade.

2. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 


Em primeiro lugar antes de defender a busca de mais dinheiro para a saúde precisamos conhecer quais são objetivos do SUS, o sistema público de saúde brasileiro. Onde pretendemos chegar. Defendo que o papel, de toda a sociedade e dos serviços de saúde é ajudar as pessoas a viverem mais e melhor. O direito de todos nós só morrermos bem velhinhos, de preferência sem nunca ter ficado doentes (quase impossível) e se ficarmos que saremos logo, de preferência sem sequelas. Saber que a saúde depende de vários fatores como a carga genética, biológica, estilo de vida, o ambiente físico e sócio econômico que nos cerca e  a suficiência e boa qualidade dos serviços de saúde. Portanto, é um engano pensar que nossa saúde só depende dos serviços de saúde. Temos que pensar na multicausalidade da saúde que passa pelos seus condicionantes e determinantes: salário, trabalho, casa, comida, vestuário, educação, cultura, transporte, meio ambiente etc. 

A partir de 1988, depois de uma luta de décadas, o Brasil conseguiu garantir na sua Constituição a saúde como direito de cidadania e obrigação do estado. Foram colocados como objetivos a identificação dos condicionantes e determinantes da saúde, o planejamento para melhorar os riscos de agravos e doenças e a execução de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. 

Entre os vários princípios e diretrizes assistenciais e organizacionais do SUS estão: universalidade, integralidade, igualdade, intersetorialidade, direito à informação, autonomia das pessoas, resolutividade, uso da epidemiologia para planejar e alocar recursos, descentralização, regionalização, hierarquização, gestor único por esfera, complementariedade e suplementariedade do privado, financiamento da União, Estados e Municípios e participação da comunidade. 

O cidadão tem direito e obrigação de participar pois o dever do estado não exclui a responsabilidade das pessoas, famílias, empresas e sociedade (Lei 8080,2,2). Isto se junta ao preceito de participação da comunidade e gera o dever de participar. O grande desafio é conseguir das pessoas adesão e compromisso de cuidar de sua própria saúde e de seus concidadãos. É necessária uma participação individual onde cada um cuide de sua higiene, alimentação, exercícios, preservação da saúde mental, uso correto de ações e serviços de saúde (medicamentos, exames, procedimentos especializados). Agir com prevenção. Cuidar de si próprio e de outros. Coletivamente os cidadãos podem participar dos conselhos e conferências de saúde e de suas várias comissões. O poder dos Conselhos de Saúde é muito maior do que imaginam. Nada pode acontecer na saúde pública sem estar no orçamento e nada pode ir ao orçamento sem estar no plano e nada pode ir ao plano, sem a aprovação do conselho. 

Este SUS, propriedade do cidadão brasileiro, minha e sua, produz a cada dia, mês e ano, o inimaginável. No ano de 2010 foram realizados 3,6 bi de procedimentos. Só na atenção básica 1,6 bi e na média e alta complexidade 2 bi. As ações de vigilância à saúde foram 535 mi. Vacinas, 138 mi. Consultas e atendimentos 1,5 bi. Internações 11,7 mi. Exames bioquímicos 435 mi. Exames de imagens 92 mi. Ações de saúde bucal 220 mi. 


Ainda que queiram dizer que são os governos que financiam a saúde do cidadão existe aqui um erro de origem. Somos nós cidadãos que a tudo financiamos através do pagamento de impostos e contribuições. O cidadão espera com isto, receber de volta ações e serviços de saúde suficientes e de boa qualidade, sem nenhum outro pagamento. Os cidadãos garantiram através dos governos, no ano de 2010 R$138 bi sendo R$62 bi da União, R$37 bi dos Estados e R$39 bi dos Municípios. Paralelamente a isto os cidadãos também pagaram sistemas privados de saúde como planos e seguros (R$73 bi) pagamento privado direto (R$25 bi) e gasto direto com medicamentos (R$55 bi). O dinheiro público dividido pela população e pelos 365 dias do ano resulta num gasto de R$ 1,98 por habitante/dia. Dispensa comentário!

3. O SUBFINANCIAMENTO FEDERAL COM A SAÚDE 

      A responsabilidade de financiar a saúde continua do cidadão que o faz como pré-pagamento aos governos. Daí para frente a responsabilidade de financiar passa a ser das 3 esferas de governo. Isto está definido na CF, depois reforçado na EC-29 e agora na LC 141. 

Financiamento Municipal: Os Municípios devem destinar no mínimo 15% de seus recursos próprios para a saúde. Nem todos os municípios ainda cumprem os mínimos mas a perda é insignificante. A quase totalidade cumpre e o faz com mais recursos que os mínimos. Em 2009 os municípios estavam colocando 21,9% de sua receita própria, em saúde. Em 2009 os municípios colocaram R$11,5 bi a mais que os mínimos legais, corrigidos pelo IGPM em dezembro de 2010. 

Financiamento Estadual: Os Estados devem colocar no mínimo 12% de seus recursos próprios em saúde. Nem todos os estados ainda cumprem os mínimos. A maioria dos que restam não cumprindo, representam pouco dinheiro a mais. De outro lado vários estados gastam mais que o mínimo. Entre 2000 e 2009 os Estados que não cumpriram o mínimo devem para a saúde R$31,8 bi, corrigidos pelo IGPM para dezembro de 2010. 

Financiamento Federal: a União deve aplicar, desde 2000, em ações e serviços públicos de saúde os recursos mínimos correspondentes ao valor apurado no ano anterior, aplicada a variação nominal do PIB. A União nunca aplicou o mínimo da CF e usou de vários artifícios para contabilizar errado, dando como cumprido. Pagou com dinheiro da saúde: o Bolsa Família, os planos de saúde dos funcionários, a farmácia popular que tinha co-pagamento do cidadão e  cancelou restos a pagar sem compensá-los. Isto fez com que a União entre os anos de 2000 e 2009 devesse cerca de R$20 bi ao SUS corrigido pelo IGPM em dezembro de 2010. 

Existem três evidências do desfinanciamento federal para a saúde desde a CF de 1988 e da EC-29 de 2000. Nada foi suficiente para que a União cumprisse seu compromisso legal considerando que ela é a única esfera de governo que pode arrecadar dinheiro para a saúde (impostos e contribuições) e que tem que repartir entre as três esferas de governo responsáveis pela execução de ações e serviços de saúde.

1ª EVIDÊNCIA DO BAIXO GASTO DA UNIÃO COM SAÚDE 
O gasto da União em 1997 foi de R$294 por hab.; em 2003 foi R$234 por hab.; em 2008 R$289 por hab. Diminuiu e muito a cada ano. A partir de 2009 aumentou devido à gripe suína que demandou recurso extra.
2ª EVIDÊNCIA DO BAIXO GASTO DA UNIÃO COM SAÚDE
O gasto da União como percentual de sua receita vem caindo desde 1995. Gasto da União como % da receita em 1995 foi de 11,72% e em 2011 de apenas 7,3%. Hoje a saúde, que já teve 11,72% reivindica apenas o mínimo de 10% da Receita Corrente Bruta.
3ª EVIDÊNCIA DO BAIXO GASTO DA UNIÃO COM SAÚDE
O gasto da União com saúde vem caindo proporcionalmente com o aumento do financiamento dos estados e dos municípios. A União foi deixando a responsabilidade do financiamento para Estados e Municípios, com a carga máxima sobre os Municípios.

ANO
UNIÃO
ESTADOS
MUNICÍPIOS
1980
75%
18%
7%
1991
73%
15%
12%
2001
56%
21%
23%
2010
45%
27%
28%


4. NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS PARA A SAÚDE 
Recorrentemente afirmam que o dinheiro da saúde é suficiente e que o problema é só de gestão. Existem evidências que demonstram a falta de recursos públicos para financiar a saúde. Abaixo estão algumas evidências da necessidade de mais recursos públicos para a saúde.

1ª EVIDÊNCIA DA NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS PARA A SAÚDE 
Os custos da saúde aumentam a cada ano, mais que qualquer índice inflacionário. Destacando-se como causa de aumento vertiginoso de custo da saúde transições em que vivemos: demográfica, epidemiológica, nutricional, tecnológica e cultural e que levam a maiores custos que nada têm a ver com os índices inflacionários.

a) Transição demográfica: 
A mortalidade infantil vem diminuindo. 
1980 – 69,12/mil nv; 2000 – 30,04/mil nv; 2009 – 22,47/mil nv (Japão 3 – Cuba 5 – Chile 8) 
A expectativa de vida ao nascer aumentando. 
1980 – 62,57 anos; 2000 – 70,46 anos; 2009 – 73,17 anos (Japão 81,12 – Cuba 77,49 – Chile 77,3)  

b) Transição epidemiológica: 
Hoje o mundo e o Brasil convivem com um perfil de doenças antigas com novas. Domínio de mais doenças crônico-degenerativas ou doenças e agravos não transmissíveis. Uso indevido de drogas. Causas externas como homicídios e tentativas, acidentes de trânsito e do trabalho. Novas epidemias como AIDS, dengue e outras e a convivência com doenças endêmicas como Tuberculose, Hanseníase, Malária e outras. Juntam-se doenças velhas e novas convivendo ao mesmo tempo.

c) Transição nutricional: 
Nunca se comeu tanto e tão mal. De um lado o consumo excessivo de alimentos com alto teor de: sal, açúcar, gorduras saturadas animais. De outro o baixo consumo de frutas-verduras–legumes que, segundo a OMS OPAS, matou 2,7 milhões de pessoas em 2003.

d) Transição tecnológica: 
Incorporação desordenada de novas tecnologias, por vezes sem critérios científicos. Por exemplo: Procedimentos: (transplantes – cirurgias minimamente invasivas...). Imagens: RX, US, TOMO, RM, PETSCAN. Novos exames: bioquímicos e hematológicos. Medicamentos: mudanças de radicais e novas descobertas. Acomodações: novas condições e exigência da Vigilância Sanitária. Lembrando: na saúde o novo não aposenta o velho, mas o sobrepõe.

e) Transição cultural: 
Cultura de prescrição e cultura de consumo. Mais informação. Mais propaganda. Mais desejos e necessidades de consumo de serviços de saúde. Mais acesso a ações e serviços de saúde. Além disto a medicina defensiva dos profissionais premidos pela mídia e pela própria clientela.

2ª EVIDÊNCIA DA NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS PARA A SAÚDE 
Comparar os gastos com saúde pública da União, Estados e Municípios em 2010, com o gasto do valor por usuário dos planos e seguros de saúde (R$1560,00), o Brasil precisaria de mais R$160 bi públicos para equiparar-se ao mesmo valor dos planos de saúde. 
Obs. Vale lembrar que os planos não oferecem o que o SUS tem obrigação de oferecer

3ª EVIDÊNCIA DA NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS PARA A SAÚDE 
Comparar os gastos da União, Estados e Municípios com saúde pública em 2010 em relação a média do % do PIB gasto com saúde por todos os países do mundo. 
No Brasil o PIB 2010 foi de R$ 3,6 tri. Gasto com saúde pública em 2010 foi de R$138 bi ou seja 3,8% do PIB. Se aplicado os 5,5% do gasto médio dos países do mundo o Brasil teria necessidade de mais R$ 198 bi. O percentual do PIB em países do mundo, dados de 2007 da OMS, foram de: Mundo (5,5%); Países de Baixa Renda (2,2%); Países de média renda (3,5%) e Países de Alta Renda (6,7%). São dados da OCDE.

4ª EVIDÊNCIA DA NECESSIDADE DE MAIS RECURSOS PARA A SAÚDE 
Se o gasto brasileiro com saúde, em 2010 por habitante/ano for comparado com outros exemplos de grupos de países podemos encontrar os dados seguintes. São dados da OMS. 
Países de maior renda: US$ 2.589 - Brasil necessitaria de R$742 bi 
Países da Europa: US$ 1.520 – Brasil Necessitaria de R$ 435 Bi 
Países das Américas: Us$ 1.484 - Brasil Necessitaria de R$ 425 Bi

6. PROPOSTAS DE RECUPERAR RECURSOS FEDERAIS DECRESCENTES 

Não se perde nunca a esperança de conseguir mais recursos para a saúde. A única esfera de governo que precisa, por justiça, colocar mais recursos é a União. Uma dívida histórica de quem já colocou mais dinheiro em saúde. Em 1995 foi 11,7% de sua Receita Corrente Bruta e agora 7%. 

Logo depois de termos perdido uma batalha com a votação equivocada da LC 141 em 7 de dezembro, já se estava pensando em ressurgir das cinzas e apresentar novas propostas de conseguir mais dinheiro para a saúde. 

Logo surgiu a idéia de fazer um projeto de iniciativa popular pretendendo exercer maior pressão no legislativo de tal modo que não fosse rejeitado. Este projeto está em fase de coleta dos 1,6 milhões de assinaturas de apoio. E, tendo o apoio da população e da sociedade organizada em inúmeras instituições. No início da legislatura dois projetos, no mesmo sentido de defesa de no mínimo 10% da Receita Corrente Bruta da União para a Saúde, foram apresentados. 

O primeiro deles do Deputado Darcício Perondi, médico pediatra do PMDB gaucho: PLP 123/2012 do qual já se indicou o realtor Deputado Saraiva Felipe, médico do PMDB mineiro. Em seguida o projeto do Deputado Eleuses de Paiva, médico do DEM paulista: PLP 124/2012. Estes projetos, se aprovados, poderão trazer recursos a mais para a saúde pública de origem federal. Pelas estimativas são R$33,5 bi a mais. 
         
Para finalizar. Temos a certeza de que não será apenas mais dinheiro capaz de resolver os problemas de saúde do Brasil. Não resolve sozinho e também não se resolve sem dinheiro. Além de mais dinheiro tem-se que usá-lo no modelo constitucional de fazer saúde, o SUS. Tem-se que evitar todas as perdas tanto com a ineficiência, quanto com a corrupção. Finalmente o povo não terá saúde de não tivermos um Brasil mais justo com acesso de todos aos mínimos necessários à sua sobrevivência e à qualidade de suas vidas.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Especial 8 de março: "Sou Mulher, sou Farmacêutica e tenho Direitos"

     Difícil pensar que num mundo como o de hoje ainda haja necessidade de reforçar anualmente a importância da mulher na sociedade. Mais do que uma data para comemorar a importância deste gênero em nossas vidas, o dia 08 de março é sem duvida um momento para que tod@s possam refletir e lutar contra a discriminação da mulher no mundo. Até certo ponto podemos duvidar que tal condição ainda exista e ao olhar para o lado  para o lodo podemos até pensar que isso não acontece próximo a nós, no entanto meus caros, os números são soberanos e não mentem:
  • Em média, mundialmente, as mulheres ganham 30% menos do que os homens, no Brasil para cada  R$100,00 recebidos pelo funcionário do sexo masculino, uma mulher receberá R$66,10; 
  • As mulheres inseridas no mercado de trabalho dedicam 22,1 horas por semana às refas da casa, enquanto os homens gastam apenas 9,9 horas com essas atividades. A dupla jornada ainda é a realidade da mulher brasileira, apenas 6,1% dos homens brasileiros dividem as tarefas domésticas com elas;
  • O Brasil lidera o ranking mundial de violência contra a mulher. De acordo com uma pesquisa feita pela Sociedade de Vitimologia Internacional, chega a 25% o número de mulheres no país que sofrem violência e 70% das mulheres assassinadas foram vítimas dos próprios maridos. Mesmo assim, apenas 2% das queixas desse tipo de violência resultam em punição;
  • No Brasil 50% da mão de obra economicamente ativa estão representadas pelas mulheres. As mulheres ocupam menos de 10% dos cargos políticos existentes;    
             Estes dados contrariam em amplos aspectos os 12 diretos das Mulheres estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU):
  1. Direito à vida.
  2. Direito à liberdade e à segurança pessoal.
  3. Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas de discriminação.
  4. Direito à liberdade de pensamento.
  5. Direito à informação e à educação.
  6. Direito à privacidade.
  7. Direito à saúde e à proteção desta.
  8. Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar sua família.
  9. Direito a decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los.
  10. Direito aos benefícios do progresso científico.
  11. Direito à liberdade de reunião e participação política
  12. Direito a não ser submetida a torturas e maltrato.

            No universo da categoria farmacêutica as mulheres são maioria, composta por mais de 130 mil profissionais, representam cerca de 70% da classe. Para garantir o direito dessas mulheres a Federação Nacional dos Farmacêuticos desenvolve uma campanha em todo brasil, intitulada: "Sou Mulher, sou Farmacêutica e tenho Diretos". Luta da qual devemos conhecer e apoiar. 


            Se outrora convivíamos com uma profissão predominantemente masculina, vide os antigos boticários (homens), hoje vivemos uma revolução profissional conduzida em grande parte pelas mulheres.  
       O advento da Atenção Farmacêutica e a retomada do cuidado clinico pelos farmacêuticos por exemplo, têm como ícones principais duas mulheres: A Dra. Maria José Faus Dader do Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica" - Universidad de Granada e a Dra. Linda M. Strand da University of Minnesota. Essas profissionais não só contribuem para o desenvolvimento de uma nova pratica profissional, mas trouxeram a tona a discussão da razão de ser do farmacêutico.

                                                        Linda M. Strand                                          Maria José F. Dader


        No Brasil a farmacêutica mais conhecida por toda a população brasileira e por uma serie de órgãos internacionais se destacou por uma causa muito além dos limites profissionais, se destacou pela luta em favor dos direitos das mulheres e contra a violência domestica:

        Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica bioquímica brasileira que lutou para que seu agressor viesse a ser condenado. Com mais de 60 anos e três filhas, hoje ela é líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres, vítima emblemática da violência doméstica.

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          Em 7 de agosto de 2006, foi sancionada pelo presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva a Lei Maria da Penha, na qual há aumento no rigor das punições às agressões contra a mulher, quando ocorridas no ambiente doméstico ou familiar.
         Em 1983, seu marido, o professor colombiano Marco Antonio Heredia Viveros, tentou matá-la duas vezes. Na primeira vez atirou simulando um assalto, e na segunda tentou eletrocutá-la. Por conta das agressões sofridas, Penha ficou paraplégica. Nove anos depois, seu agressor foi condenado a oito anos de prisão. Por meio de recursos jurídicos, ficou preso por 16 meses, cumprindo depois o regime semiaberto e depois liberdade condicional, hoje permanece livre.
     O episódio chegou à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e foi considerado, pela primeira vez na história, um crime de violência doméstica. Hoje, Penha é coordenadora da Associação de Estudos, Pesquisas e Publicações da Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), no Ceará. Ela esteve presente à cerimônia da sanção da lei brasileira que leva seu nome, junto aos demais ministros e representantes do movimento feminista.
      A nova lei reconhece a gravidade dos casos de violência doméstica e retira dos juizados especiais criminais (que julgam crimes de menor potencial ofensivo) a competência para julgá-los. Em artigo publicado em 2003, a advogada Carmem Campos apontava os vários déficits desta prática jurídica, que, na maioria dos casos, gerava arquivamento massivo dos processos, insatisfação das vítimas e banalização da violência doméstica.

     Sem dúvida uma grande lição de uma farmacêutica, mulher que lutou por seus direitos!