O FDA, órgão do governo americano que controla
drogas e alimentos, anunciou nesta segunda-feira a aprovação do Truvada, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences,
como primeira pílula para ajudar a prevenir a contração do HIV em grupos de
alto risco. E é claro, mesmo antes de qualquer discussão sobre a aprovação na
Europa ou em países em desenvolvimento, a noticia já correu o mundo
convenientemente alardeada como uma grande contribuição da Industria
Farmacêutica para o combate a epidemia de AIDS. Será?
O Truvada, comercializado desde 2004, é a combinação de
outras duas drogas, mais antigas,
usadas no combate ao HIV: emtricitabina e tenofovir. O medicamento
faz parte de alguns coqueteis que dificulta a proliferação do vírus, reduzindo as
chances de a Aids se desenvolver. Porém, apesar de toda a marketing
internacional para o uso deste medicamento na prevenção da AIDS os dados de
eficácia ainda são questionáveis.
Um dos estudos avaliou o desempenho
do medicamento entre 2.499 homens que fazem sexo com homens, distribuídos em seis
países. Nesse trabalho, ficou demonstrado que o nível de proteção
oferecido pela droga variou de 43% a 73%. Outros dois estudos mostraram níveis
de proteção similares. Um quarto, realizado com mulheres no continente africano,
foi interrompido por causa dos resultados ruins e da baixíssima adesão ao
tratamento.
Obviamente pela
inferioridade da proteção do medicamento em relação a camisinha, o mesmo não
substituirá o uso do preservativo, melhor método de prevenção de
contagio até o momento, com taxas de efetividade superiores a 99%. Porém
o próprio fabricante indica o seu uso (associado a camisinha) para
grupos vulneráveis como prostitutas ou pessoas não infectadas que possuem
parceiros soropositivos. Porém o maior questionamento é em relação ao aspecto
de custo efetividade do uso deste medicamento. O uso combinado da camisinha +
medicamento traz ganho real em relação ao uso isolado do preservativo?
Como todo
medicamento, é necessário observar o grau de adesão dos pacientes ao seu uso,
problema relatado no estudo feito na África (onde o flagelo da doença se mostra
mais evidente com estimativa de mais de 60%, da população AIDS-infectada).
A Adesão pode ser prejudicada pelos efeitos colaterais característicos dos
Antiretrovirais. O Truvada costuma provocar, como efeito colateral,
vômitos, diarreia, náuseas e tontura. Há casos também de intoxicação do
fígado, perda óssea e alteração da função renal.
E quanto isso tudo
pode custar?
Segundo a reportagem da Isto
É, nos casos em que a seguradora de saúde
não assumir o pagamento do remédio nos EUA, o interessado em tomá-lo precisará
desembolsar cerca de US$ 12 mil por ano.
O Brasil que possui um dos melhores programas de tratamento
da AIDS do mundo, essa expectativa em relação ao uso do medicamento parece
não ser vista com bons olhos, dado a falta de dados mais efetivos e ao alto
valor do medicamento. Mesmo já registrado no Brasil, o Truvada não foi
adicionado ao coquetel de tratamento da AIDS.
Precisamos cada vez
mais reforçar os mecanismos de Avaliação de Tecnologias em Saúde no serviço
publico para evitar que os mecanismos de marketing farmacêutico, agora cada vez
mais disfarçados como reportagens jornalísticas pressionem a incorporação de
medicamentos com menor grau de evidencia e maior grau de oneração dos recursos
da saúde.
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