terça-feira, 24 de julho de 2012

Truvada, AIDS e como a Industria Farmacêutica nos enrola mais uma vez

O FDA, órgão do governo americano que controla drogas e alimentos, anunciou nesta segunda-feira a aprovação do Truvada, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences, como primeira pílula para ajudar a prevenir a contração do HIV em grupos de alto risco. E é claro, mesmo antes de qualquer discussão sobre a aprovação na Europa ou em países em desenvolvimento, a noticia já correu o mundo  convenientemente alardeada como uma grande contribuição da Industria Farmacêutica para o combate a epidemia de AIDS. Será?


O Truvada, comercializado desde 2004, é a combinação de outras duas drogas, mais antigas, usadas no combate ao HIV: emtricitabina  e  tenofovir. O medicamento faz parte de alguns coqueteis que dificulta a proliferação do vírus, reduzindo as chances de a Aids se desenvolver. Porém, apesar de toda a marketing internacional para o uso deste medicamento na prevenção da AIDS os dados de eficácia ainda são questionáveis.



Um dos estudos avaliou o desempenho do medicamento entre 2.499 homens que fazem sexo com homens, distribuídos em seis países. Nesse trabalho, ficou demonstrado que o nível de proteção oferecido pela droga variou de 43% a 73%. Outros dois estudos mostraram níveis de proteção similares. Um quarto, realizado com mulheres no continente africano, foi interrompido por causa dos resultados ruins e da baixíssima adesão ao tratamento. 

Obviamente pela inferioridade da proteção do medicamento em relação a camisinha, o mesmo não substituirá o uso do preservativo, melhor método de prevenção de contagio até o momento, com taxas de efetividade superiores a 99%. Porém o próprio fabricante indica o seu uso (associado a camisinha) para grupos vulneráveis como prostitutas ou pessoas não infectadas que possuem parceiros soropositivos. Porém o maior questionamento é em relação ao aspecto de custo efetividade do uso deste medicamento. O uso combinado da camisinha + medicamento traz ganho real em relação ao uso isolado do preservativo?


Como todo medicamento, é necessário observar o grau de adesão dos pacientes ao seu uso, problema relatado no estudo feito na África (onde o flagelo da doença se mostra mais evidente com estimativa de mais de 60%, da população AIDS-infectada). A Adesão pode ser prejudicada pelos efeitos colaterais característicos dos Antiretrovirais. O Truvada costuma provocar, como efeito colateral, vômitos, diarreia, náuseas e tontura.  Há casos também de intoxicação do fígado, perda óssea e alteração da função renal.

E quanto isso tudo pode custar?
Segundo a reportagem da Isto É, nos casos em que a seguradora de saúde não assumir o pagamento do remédio nos EUA, o interessado em tomá-lo precisará desembolsar cerca de US$ 12 mil por ano.

O Brasil que possui um dos melhores programas de tratamento da AIDS do mundo, essa expectativa em relação ao uso do medicamento parece não ser vista com bons olhos, dado a falta de dados mais efetivos e ao alto valor do medicamento. Mesmo já registrado no Brasil, o Truvada não foi adicionado ao coquetel de tratamento da AIDS.

Precisamos cada vez mais reforçar os mecanismos de Avaliação de Tecnologias em Saúde no serviço publico para evitar que os mecanismos de marketing farmacêutico, agora cada vez mais disfarçados como reportagens jornalísticas pressionem a incorporação de medicamentos com menor grau de evidencia e maior grau de oneração dos recursos da saúde.

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